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  • Desmatamento recorde em fevereiro? Entenda por que queda dos números pode demorar a aparecer
    A revelação de que o último mês de fevereiro foi o que mais registrou alertas de desmatamento da Amazônia desde 2015 agitou os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro  – afinal, os números negativos ocorrem no segundo mês do novo governo, que prometeu zerar a devastação da floresta até o fim desta década. Entretanto, especialistas no tema advertem que os resultados do novo plano para combater o problema podem demorar meses, ou até anos, para aparecer. Conforme os dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), alertas de desmatamento foram verificados em 322 km² da Amazônia, número 62% superior ao recorde anterior, de 2022 (198 km²). Ao comentar os números, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima ressaltou que, neste período do ano, "há grande concentração de nuvens” na região, o que dificulta a visualização dos satélites ópticos que identificam a queda da cobertura florestal. O período de chuvas na Amazônia ocorre de novembro a abril. Uma hipótese para explicar o elevado número de alertas de devastação em fevereiro é que, na realidade, a derrubada de árvores tenha ocorrido antes, em janeiro ou dezembro, porém só tenha sido possível identificá-la agora. O fato de o Deter ter verificado um índice muito mais baixo de alertas de desmatamento em janeiro, em 166 km², corrobora essa tese. Calendário do desmatamento Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, salienta que, no balanço do ano comparado com o mesmo período de 2022, houve uma queda de 22%. Para ele, o desempenho do atual governo só poderá ser avaliado a partir do segundo semestre, uma vez que os índices anuais são medidos de agosto a julho. "A taxa desse ano, a ser publicada por setembro ou outubro, ainda virá com dados do outro governo. Não existe uma bala de prata para fazer com que um desmatamento crescente como o dos últimos anos, ultrapassando 10 mil km² – algo que não era visto havia mais de uma década –, diminua de uma vez. Vai ser preciso tempo”, afirma. "O Ibama, o ICMBio e a Funai, que são os órgãos de fiscalização, estão desaparelhados. O número de funcionários está muito abaixo do que seria necessário.” Batista lembra ainda que "a Amazônia de hoje não é mais a mesma que a de 10 anos atrás”, já que as redes de desmatadores, grileiros e madeireiros ilegais se profissionalizaram e expandiram as atividades pela floresta. No segundo semestre de 2022, na expectativa da derrota de Bolsonaro nas eleições, a ocorrência de crimes ambientais nos biomas brasileiros disparou, num movimento que a mera troca de governo seria incapaz de conter, observa Ane Alencar, pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora da equipe MapBiomas Fogo. “A gente espera que quando o governo estiver realmente todo estruturado, com os cargos preenchidos e o plano, desenvolvido, as ações governamentais fiquem mais publicizadas, para que a sociedade se sinta cada vez mais confiante que o crime não vai compensar na Amazônia”, aponta. Presença no terreno Até o momento, a única grande operação realizada pelo governo federal no terreno foi para socorrer o povo indígena yanomani em Roraima, em meados de janeiro. Como resultado da atuação, os registros de queimadas no Estado caíram 44% na comparação com o ano passado, aponta a pesquisadora. "Eu acho que esse governo tem de tudo para debelar e reduzir esse desmatamento de uma forma contundente, mas isso não vai acontecer de uma hora para a outra”, reitera. A Amazônia ocupa uma área continental, em que a fiscalização dos crimes ambientais sempre representou um desafio importante. No primeiro mandato de Lula, iniciado em 2003, os dados do desmatamento começaram a baixar apenas no segundo ano de gestão. É por isso que a reativação do PPCDAM (Plano de Prevenção Controle do Desmatamento da Amazônia) e do Fundo Amazônia, com R$ 5 bilhões em caixa, são apontados como duas medidas cruciais da atual gestão para controlar o desmatamento. Rômulo Batista, do Greenpeace, frisa ainda que deve ser reforçado o combate ao financiamento tanto nacional, como internacional das ilegalidades cometidas nos biomas brasileiros. A Europa adotou uma regulamentação para impedir a importação de produtos oriundos do desmatamento, mas outros passos nesse sentido deveriam ser visados. "A gente tem o Plano Safra que injeta bilhões de reais e bancos emprestam dinheiro sem sequer cobrar qualquer tipo de garantia ambiental de que o dinheiro não vai ser utilizado em atividades que desmatam. Temos até mesmo os grandes fundos de investimentos e fluxos financeiros internacionais financiando empresas que não têm nenhum tipo de compromisso de cuidar da sua cadeia produtiva no Brasil”, sinaliza.
    3/16/2023
    19:04
  • Seca na França: país deve desenvolver estratégias para garantir segurança hídrica e proteger agricultura
    Após ter passado pelo verão mais quente de sua história, em 2022, a França atravessa o inverno mais seco dos últimos 50 anos. O déficit de 30% de chuvas gera temores de que falte água no país no próximo verão. Na opinião de especialistas, com as mudanças climáticas, as secas devem se tornar mais frequentes nos próximos anos, com impacto importante na produção de alimentos. Ana Carolina Peliz, da RFI Por ser o país europeu com a maior produção agrícola, a França deve desenvolver estratégias para se adaptar à nova realidade e garantir sua segurança hídrica. A falta de chuvas levou o governo francês a decretar medidas de restrição do uso de água em algumas regiões e pedir aos franceses que reduzam seu consumo. De acordo com especialistas da Météo France, o serviço meteorológico francês, a situação pode se tornar crítica se a primavera — que começa em março no Hemisfério Norte — e o verão forem secos e quentes como no ano passado. Para amenizar a falta de chuvas de fevereiro, que foi um mês especialmente seco, seria necessário que março tivesse o dobro de precipitações que o normal, o que não está previsto, informa a Météo France. Com o volume dos rios muito abaixo do normal, o governo francês decidiu tomar medidas preventivas. O ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu, colocou 12 departamentos em alerta. Em seis deles, no sudeste do país (Ain, Bouches-du-Rhône, Pirineus Orientais, Var, Drôme e Ardèche), foram impostas restrições ao uso da água, com proibição de regar plantas, irrigar plantações, além de encher piscinas e lavar carros. As medidas entram em vigor a partir desta sexta-feira (10), de maneira precoce, antes mesmo do fim do inverno. Segurança hídrica  "A questão é sobretudo de organização coletiva e lucidez", diz Sébastien Abis, diretor do Clube Demeter, que reúne empresas do setor agroalimentar e especialistas sobre temáticas do desenvolvimento sustentável, e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).    "Claro, a sobriedade é a palavra-chave hoje, porque a França, assim como a Europa, descobre a que ponto a mudança climática vai afetar nosso continente, nossos territórios. E a escassez hídrica é um tema que gera preocupações", afirma.  Para ele é necessário ter lucidez e garantir que setores prioritários recebam a água de que necessitam. "Principalmente para produzir alimentos, porque os franceses se preocupam com sua segurança alimentar. Isso também quer dizer que temos que repensar o sistema de reserva de água para combater a escassez e, claro, temos que ter em mente a questão do reúso da água", continua o especialista, que sublinha que a "França terá que repensar sua insegurança hídrica".  Abis lembra que atualmente a preocupação com a seca está voltada principalmente para a produção agrícola.  Adaptação  De acordo com o IPCC, o Grupo de Especialistas sobre o Clima da ONU, em seu relatório "Impactos, adaptação e vulnerabilidade", de 2022, o aumento da frequência e da intensidade de eventos meteorológicos extremos, como secas e ondas de calor, gerados pelas mudanças climáticas, terá forte impacto nas colheitas, degradando terras cultiváveis e dificultando também a pecuária.  Estas alterações devem levar ao aumento do preço dos alimentos e colocar em risco a segurança alimentar, como lembra Sébastien Abis. "Nós vimos que no ano passado tivemos uma geada que fragilizou as colheitas. Esse ano temos o problema da [falta de] precipitações", lembra. "Então é necessário sensibilizar os franceses, a partir de agora, para o fato de que a segurança alimentar não é algo adquirido. E deve ser preservada. São necessárias técnicas, esforços coletivos, políticas públicas e, sobre o clima, uma enorme capacidade de previsão e adaptação", ele explica. "Algumas culturas talvez não poderão ser plantadas amanhã na França, enquanto outras, poderemos plantar mais", compara.  Para o especialista, a França teria que se inspirar em países vizinhos, como a Espanha e a Itália, mas também na África e no Oriente Médio, que sofrem há mais tempo de escassez de água e desenvolveram técnicas de adaptação, com inovações tecnológicas, mas também sócio-organizacionais e ecológicas.  A revisão do modelo de agricultura poderia garantir uma maior segurança hídrica. De acordo com o IPCC, as práticas agroecológicas, como diversificação das culturas ou agricultura orgânica, permitiriam não somente uma maior retenção de água nos solos, mas também atenuariam as mudanças climáticas.
    3/9/2023
    6:22
  • Jornais fazem mapa de contaminação por "poluentes eternos" e revelam poluição massiva da Europa
    Um consórcio de jornais europeus realizou uma investigação sobre os "poluentes eternos" que revelou que os países da Europa estão em grande escala poluídos. A pesquisa inédita mapeou mais de 2.000 hotspots que, até o momento, não tinham sido catalogados.  Ana Carolina Peliz, da RFI Os chamados produtos químicos eternos, apesar de desconhecidos da maioria das pessoas, fazem parte da vida moderna e estão presentes em quase todos os utensílios domésticos. O problema é que estas substâncias tóxicas invisíveis são extremamente resistentes. Suas moléculas se acumulam em nossos organismos e no meio ambiente, transformando-se em um verdadeiro problema para ecossistemas e para a saúde humana. As substâncias per e polifluoroalquil, conhecidos como PFAs ou substâncias químicas eternas, são moléculas sintéticas, muito resistentes, desenvolvidas nos anos 1940 a partir da união de átomos de flúor e carbono.  Desde então, elas são usadas de maneira intensiva, principalmente na fabricação de produtos antiaderentes, impermeáveis ou resistentes a manchas. Os PFAs estão presentes em roupas, tapetes, ceras para piso, panelas antiaderentes, embalagens a prova de gordura —como as dos fast-foods e de embalagens longa vida — e até no fio dental e em alguns cosméticos.  Existem mais de 4.700 diferentes produtos com químicos PFAS no mercado atualmente, fazendo com que esta seja a substância sintética mais fácil de se encontrar no mundo.  Pesquisa e mapeamento Para ter uma ideia da extensão da poluição por estas substâncias, o consórcio de jornalistas "Forever Pollution", que engloba 18 veículos de comunicação europeus, realizou uma investigação inédita que mapeou a presença dos PFAs na Europa. A pesquisa revelou que o continente está massivamente contaminado por estes poluentes eternos.  O consórcio de jornalistas recompilou informações de pesquisas sobre a contaminação pelos PFAs em países como França, Espanha, Inglaterra, Alemanha e Grécia.  Após quase um ano de trabalho, os jornalistas descobriram que a Europa tem 17 mil áreas onde a poluição pelos químicos alcança níveis preocupantes. Em 2.100 destes focos, os níveis são perigosos para a saúde humana, de acordo com especialistas que participaram da pesquisa.   Alguns destes locais estão ao lado de vinte fábricas de produção de PFAs localizadas pela investigação do consórcio, que até então não tinham sido catalogados.  “O ponto de partida da investigação foi localizar as indústrias produtoras de PFAs. Não existem muitas, porque é uma tecnologia complexa", explica a jornalista Stéphane Horel, jornalista do Le Monde, que participou da investigação.  "Percebemos rapidamente que existiam muitos outros lugares importantes em termos de contaminação ambiental além das indústrias. Então nós encontramos uma metodologia usada anteriormente por cientistas norte-americanos para mapear os lugares provavelmente contaminados, nos Estados Unidos. Decidimos adaptar esta metodologia, com o apoio destes pesquisadores norte-americanos", para a Europa. "Por isso dizemos que fizemos ‘peer reviewed journalism’, ou jornalismo revisado pelos pares, com apoio científico e validação, por cientistas, dos métodos que utilizamos”, explica. Cidade das panelas de teflon Um dos principais focos de contaminação está em Rumilly, em uma região de montanhas do sudeste da França. A cidade, conhecida como a capital francesa das panelas, é onde está localizada a principal fábrica da Tefal no país, produtora das célebres panelas antiaderentes feitas com teflon, material produzido com um PFA.  “O que é chocante é que o problema dos PFAs foi revelado no final dos anos 1990, nos Estados Unidos, devido ao caso de uma fábrica que produzia teflon e que poluiu o meio ambiente", diz Stéphane Horel. "Temos na França uma usina Tefal, que fabrica o teflon, e nunca passou pela cabeça das autoridades testar a água em volta da fábrica, para saber se existia o PFOA, o PFAs que era utilizado até pouco tempo para fabricar o teflon. A primeira vez que isso foi feito foi em janeiro de 2022", lamenta a jornalista.  Um dos grandes problemas dos PFAs é que a contaminação gerada por estes químicos não se concentra apenas em áreas onde estão localizadas as indústrias produtoras. Uma vez liberados no meio ambiente, as moléculas são transportadas facilmente pela água e poluem lugares distantes do foco original. Outro problema destacado por Stéphane Horel é a desinformação sobre o assunto.  “Isso que é impressionante com os PFAS. Estamos no meio de uma catástrofe, mas a maioria das pessoas nunca ouviu falar. É como se descobríssemos o problema dos agrotóxicos no estado que estamos atualmente, mas sem termos passado por todas as etapas anteriores", diz. "Acho que é um choque para a opinião pública descobrir estas substâncias que são realmente desconhecidas. Além disso, o nome delas é complexo e não ajuda na compreensão do assunto", completa.  Impacto da investigação De acordo com a jornalista, ainda é cedo para medir o impacto do mapeamento, cujos resultados começaram a ser publicados nas mídias participantes do consórcio em 23 de fevereiro.  “Agora, o que me interessa é saber como isso será visto pelas autoridades, como elas vão utilizar estes dados, para medir a contaminação no meio ambiente, para informar a população. Para mim é isso que interessa", afirma.  A data de publicação da pesquisa não foi escolhida aleatoriamente. A União Europeia abre uma consulta pública em 22 de março sobre o assunto, e em 7 de fevereiro a Agência Europeia de Produtos Químicos (Echa) divulgou um projeto para proibir todos os PFAs, no que poderia se transformar na mais vasta regulamentação da indústria química europeia.
    3/2/2023
    7:10
  • Doar milhões para o Fundo Amazônia é ‘greenwashing’ de países ricos e poluidores?
    Com o fim do governo de Jair Bolsonaro, a retomada do Fundo Amazônia desperta o interesse de outros potenciais doadores para o mecanismo, além da Noruega e da Alemanha. Estados Unidos e França sinalizaram a intenção de contribuir para o programa, o mais importante para a proteção da floresta. Ao mesmo tempo, estes países têm em comum um passivo ambiental deplorável – estão entre os que mais exploram ou usam energias fósseis no mundo, as maiores responsáveis pelo aquecimento do planeta. Lúcia Müzell, da RFI A Noruega, de longe a maior contribuidora do fundo, com mais de R$ 3,18 bilhões de 2008 até agora, é também a 12ª maior produtora de petróleo do globo. Já a Alemanha pena a se livrar da dependência do gás natural na sua matriz energética e, sobretudo, do carvão – o maior vilão das emissões de gazes de efeito estufa, à frente do petróleo. Quase um terço da luz consumida no país ainda vem de centrais a carvão. Neste contexto, a participação no Fundo Amazônia pode ser vista como uma forma de compensar esses e outros esqueletos no armário de noruegueses e alemães, mas também de americanos, os maiores emissores históricos de CO2 e outros gases nocivos, e franceses, oitavos no ranking mundial, na contagem a partir da Revolução Industrial. Mas, na visão de Carlos Rittl, especialista em políticas públicas da ONG Rainforest Foundation da Noruega e ex-secretário-executivo do Observatório do Clima, do Brasil, a responsabilidade histórica é justamente a principal razão para esses países bancarem a preservação do que restou de florestas tropicais no mundo. “Essas contradições precisam ser enfrentadas, precisam ser discutidas e os países têm que ser pressionados a cumprirem aquilo com o que se comprometeram nos fóruns globais. Mas há algumas obrigações internacionais desses países desenvolvidos no âmbito, por exemplo, das Nações Unidas, de apoio a países em desenvolvimento para promoverem um desenvolvimento sustentável”, lembra. “Então, o fato de a gente ter recursos vindos para o Fundo Amazônia, que a gente tenha segurança de que vão gerar impacto positivo seja para a proteção do meio ambiente como para redução de emissões, não pode ser visto como sendo o que a gente chamaria de ‘maquiagem verde’.” ‘Fins justificam os meios' O cientista político François Gemenne, pesquisador da geopolítica do clima na Sciences Po de Paris, ressalta que, nos mecanismos de compensação desenhados na diplomacia internacional, é preciso estar sempre atento para que não se transformem em "instrumentos de greenwashing" pelos países ricos. “Com frequência, a questão das compensações de emissões é envolvida por fraudes climáticas, como dupla contagem de corte de emissões para ambos os países. Esses mecanismos às vezes servem para os países evitarem enfrentar a redução das suas próprias emissões nacionais”, salienta. “Mas, ao mesmo tempo, existe um desafio crucial que é compensar financeiramente os países florestais pela queda ou o fim do desmatamento, já que hoje as florestas primárias são uma fonte considerável de recursos para esses países. Precisamos ajudá-los a encontrar outras alternativas econômicas”, observa. Para o pesquisador belga, iniciativas como o Fundo Amazônia fazem parte do que ele considera ser uma responsabilidade global de salvar a maior floresta tropical do planeta. "Poderíamos acusar a Noruega de ser hipócrita ao continuar a aproveitar os benefícios da indústria petrolífera. Mas o fato é que hoje estamos numa situação de urgência e acho que temos que ser absolutamente pragmáticos, olhar para as soluções que nos permitam baixar já as nossas emissões de gases de efeito estufa, incluindo a queda do desmatamento”, constata. "É claro que os países vão fazer isso por diversas razões: uns por grandeza, por se preocuparem com os nosso bem comum, o planeta; outros por lucros ou interesses. Mas acho que estamos um pouco numa situação na qual os fins justificam os meios. Acho que devemos evitar fazer julgamentos morais”, avalia Gemenne.   Pressões internas Essas contradições são alvo de pressões crescentes dentro desses países ricos. A Alemanha enfrenta uma onda de protestos contra a expansão de uma mina de carvão em Lützerath, no oeste do país. Já a Noruega promoveu a eletrificação em massa da sua rede de transportes, tornando-se o país com a maior proporção de carros elétricos por habitante no mundo. Entretanto, ambientalistas e políticos de esquerda acusam Oslo de ter atingido esse objetivo graças os recursos do petróleo – que apesar de estar com a produção em declínio, permanece a coluna vertebral da economia norueguesa. “É importante que os recursos que hoje existem, ainda da economia do petróleo e dos combustíveis fósseis, promovam a transição energética. O que é necessário é que a gente tenha clareza de qual é o caminho que cada país vai adotar para a sua própria transição, para a eliminação da produção e consumo de combustíveis fósseis, assim como a transição para uma agricultura pecuária sustentável, a redução do desmatamento e outras ações fundamentais”, compara Rittl. O cientista e ambientalista brasileiro lembra que Noruega e Alemanha têm metas de cortes de gases de efeito estufa de 50 e 55% até 2030, em relação aos índices de 1990, e atingir a neutralidade de carbono em 2050 e 2045, respectivamente. Futuros contribuidores Desde que foi criado, em 2008, o Fundo Amazônia já bancou mais de 100 projetos dos governos federal e estaduais, além de organizações ambientais. O mecanismo é gerenciado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). Na recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos Estados Unidos, Joe Biden formalizou a intenção dos americanos de contribuir para o fundo, no valor inicial de US$ 50 milhões, conforme a agência Reuters. “O fato de a maior economia do mundo demonstrar confiança na governança do fundo é muito significativo e pode estimular outros países”, comentou Rittl. A chanceler francesa Catherine Colonna, por sua vez, aproveitou a viagem que fez ao Brasil no começo do mês para ressaltar que Paris “estuda” a entrada no instrumento, assim como a União Europeia.
    2/15/2023
    23:36
  • França é referência em desconstrução de navios, mas silenciou sobre afundamento de porta-aviões pelo Brasil
    A notícia de que o Brasil afundaria o porta-aviões São Paulo, depois de meses de indefinição sobre o fim do navio, gerou mobilização internacional de organizações ambientalistas e uma comoção particular na França, fabricante do mastodonte de 266 metros e 28 toneladas. Os franceses são referência mundial em desmantelamento e reciclagem de embarcações civis e militares – mas, pelo menos publicamente, silenciaram sobre o naufrágio provocado da “joia” da Marinha nacional pelo Brasil.   Lúcia Müzell, da RFI A falta de reação causa ainda mais estranheza depois do escândalo do fim do Clémenceau, o primeiro porta-aviões francês a vagar no mar por anos até ser finalmente desconstruído, em 2009. A novela do Clémenceau ao menos teve o mérito de levar Paris a adotar um novo protocolo para o futuro: a partir de então, as antigas embarcações da Marinha Nacional só poderiam ser demolidas em estaleiros credenciados junto à União Europeia (UE), inclusive as vendidas para outros países. “Ao contrário da Marinha Real, do Reino Unido, e da Marinha alemã, a França, há 15 anos, destrói os seus navios, de preferência na própria França ou em países muito próximos. A Marinha Real, por exemplo, nem pensa nisso: ela envia navios militares, mesmo grandes, para serem demolidos na Turquia”, afirma Jacky Bonnemains, presidente da organização ambientalista Robin des Bois, que se especializou em acompanhar o fim da vida dos grandes navios, franceses ou não, em todo o mundo. A entidade publica um relatório trimestral do que ocorre nos mares e oceanos. Imposto para a reciclagem Também no transporte marítimo civil, os franceses deram passos à frente nas normas ambientais referentes à destruição dos barcos. Em 2019, o governo criou um organismo especializado na gestão “ecorresponsável” das embarcações recreativas com até 24 metros, sob a tutela do Ministério da Transição Ecológica. A França é o único país do mundo a adotar uma taxa, que vai de 0,5% a 0,8% do preço dos barcos vendidos no país, para financiar a reciclagem daqueles que chegam ao fim de vida útil.  “Essa organização específica implica na responsabilização ampliada dos produtores – algo que já existe para outros setores, em outros países. Mas para os barcos, único país que tem isso é a França”, garante Ivana Lazarevic, diretora da APER. Em quatro anos, sete mil embarcações já foram desmontadas e recicladas, em 30 centros de tratamento e operações espalhados pelo país. “Nós estamos envolvidos em diferentes projetos para aumentar a reciclagem possível dos componentes com os quais os barcos são constituídos e poder valorizá-los – não para criar receitas, mas para que eles sejam valorizados no mercado. Estudamos várias possibilidades, como separar a resina das fibras e poder restituir as fibras e utilizá-las na produção de novos barcos”, explica. Lucas Debievre, responsável pelo desenvolvimento da APER, acrescenta que, apesar de o serviço ser gratuito, ainda existem proprietários que decidem abandonar as embarcações nos portos e em terrenos baldios, mas também no fundo no mar. “Era uma prática comum e estamos tentando mudar a visão sobre o assunto, já que agora os proprietários não têm mais desculpas, uma vez que o serviço é gratuito. Afundar um barco é bastante desastroso para o meio ambiente”, observa. “Nós cuidamos de pequenos barcos, não são como o enorme porta-aviões Foch, mas ainda assim é problemático para o meio ambiente afundar um barco com todo o combustível, além dos danos causados pela deterioração dos metais e plásticos nos oceanos. Essa não é uma boa solução”, salienta Debievre. Autorização da França No caso do Foch, rebatizado São Paulo ao ser vendido para o Brasil, Jacky Bonnemains ressalta que o contrato de exportação previa uma cláusula para impor ao Brasil a necessidade de autorização de Paris para desmantelar o São Paulo. O estaleiro de demolições turco SÖK Denizcilik, que comprou o casco do porta-aviões, é credenciado junto à UE e a França, portanto, concordou com a transação. Mas sob a pressão dos riscos ambientais da operação, o governo da Turquia acabou se recusando a receber o navio, que foi obrigado a retornar para a costa brasileira, onde vagou por meses. Mesmo assim, o imbróglio jurídico-ambiental em que o caso de transformou no Brasil não gerou reações de Paris – ao menos não publicamente. “Não ouvimos a Marinha francesa, não ouvimos o ministro da Defesa, tampouco o presidente Emmanuel Macron, que tentava cooperar e encontrar diálogo com o novo presidente do Brasil, Lula”, comenta Bonnemains. “A França havia dado o seu acordo para a primeira opção de desmantelamento, que se mostrou impossível. Mas para a opção de afundar o navio, não podemos dizer que a França tenha aceitado, mas também não podemos dizer que ela se opôs”, nota o ecologista. Procurados pela RFI, os ministérios franceses da Defesa e da Transição Ecológica não quiseram comentar o assunto. “Acho que deve estar tendo um enorme mal-estar na Marinha Nacional e no Ministério da Defesa e que, de alguma maneira, isso poderá levar a uma maior vigilância para quando o governo francês revender navios usados para outros países”, avalia o presidente da Robin des Bois. Brasil “não tem cultura” de desmantelamento e França sabia dos riscos O especialista espera que o caso levará a França a adotar condições mais rígidas sobre o fim da vida dos navios, nos contratos futuros. Ele afirma que uma embarcação dessa envergadura representa “uma usina química” para o oceano, com quilômetros de tubulações, ferragens e cabos elétricos repletos elementos altamente tóxicos como PCB, amianto, chumbo, cromo, arsênio ou mercúrio, que cedo ou tarde acabarão poluindo a costa brasileira – sem falar dos milhões de animais, plantas e organismos já atingidos pelo afundamento da estrutura, que agora repousa a 5 mil metros de profundidade. Bonnemains lembra que Paris “sabia que assumia um risco” ao passar o porta-aviões para um país como Brasil – que, a exemplo dos vizinhos da América Latina, “não tem absolutamente nenhuma cultura” de demolição de navios desativados, sejam civis ou militares. “Nós já entendemos bem rápido, e foi confirmado agora, que o Brasil não só não tem a cultura, como não tem a vontade, para dizer a verdade, de construir um setor de desmantelamento de navios. Entre 2018 e 2022, o Brasil expediu cerca de 20 petroleiros e mineraleiros para a Índia e Bangladesh”, denuncia o ambientalista.
    2/9/2023
    10:02

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