Brasileiros que vivem no Reino Unido com passaporte europeu também precisam se adequar ao Brexit
Quem acompanha a novela do Brexit, sabe que os britânicos terão de se adaptar à nova vida após o dia 29 de março, quando o Reino Unido deixa a União Europeia (UE) de vez. Mas não apenas eles. Brasileiros que vivem no país com passaportes europeus também terão de se adequar. E eles são muitos.
Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres
A advogada Vitoria Nabas, que vive na capital britânica desde 2002, e é sócia do escritório de advocacia com a maior equipe de língua portuguesa do Reino Unido, organizou várias ações para explicar que medidas devem ser adotadas pelos brasileiros antes que seja tarde.
“Há dois anos e pouco, desde a votação do referendo, a gente está vivendo essa loucura de ter que explicar às pessoas que, sim, você vai ter que fazer alguma coisa. Você não pode pensar que vai viver aqui da mesma forma que vivia antes”, disse à reportagem da RFI.
Na quinta-feira (14), Vitória fez a sua segunda participação ao vivo num evento nas mídias sociais. E já está na segunda leva de panfletos que tem distribuído aos interessados.
Com a saída do Reino Unido da União Europeia, mudam as regras de visto de residência para quem tem passaporte europeu. Essas pessoas precisam se registrar nas autoridades de imigração competentes até 31 de dezembro de 2020 para que possam continuar vivendo no país.
Europeus não registrados precisarão de visto
Hoje, embora esse registro esteja previsto na lei, ele não é cobrado dos europeus. Mas depois do Brexit, o sistema será bem mais rigoroso. Quem não tiver o documento de identificação nacional não poderá ficar no país.
A partir de 2021, para viver em solo britânico, os europeus que não estiverem registrados vão precisar de um visto, o que não existe atualmente. Sem isso, estarão em situação irregular e poderão ser deportados. É por isso que a advogada tem sido tão enfática em sua advertência.
"A gente tem feito esse trabalho de conscientização, porque é impressionante como ainda tem muita gente que, apesar de ter sair todos os dias na televisão, no rádio, em jornais em língua portuguesa, inglesa, dizendo o que vai acontecer a partir de 1° de abril, tem gente que ainda me pergunta: eu também tenho que fazer?”, conta impressionada. "Sim, todos os europeus vão ter que fazer um registro e todos os familiares que têm visto vão ter de trocá-lo", explica Vitoria Nabas. "Tenho certeza que muita gente não vai fazer e vai acabar deixando para regularizar a sua situação em cima da hora”, afirma.
Nascida em Presidente Prudente, no interior paulista, Vitoria veio para o Reino Unido há 17 anos, quando deixou os Estados Unidos, onde era funcionária do Unibanco em Nova York. Formada em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), ela sempre atuou nas áreas empresarial e bancária. Por isso, brinca que "nunca tinha trabalhado com o ser humano". Mas acabou por tomar gosto, embora admita que tem hora que quer "esganar alguns clientes". As causas vencidas são sempre motivo de satisfação pessoal, porque significam muito para a vida das pessoas.
Entre os casos que marcaram a sua carreira em Londres, ela lembra de ter tirado um brasileiro que estava sendo deportado de dentro do avião para permanecer no Reino Unido. Por equívoco, ele estava sendo mandado embora antes que seu visto de residente tivesse saído. Sua situação foi regularizada e ele vive no país há 12 anos.
Casamentos de brasileiros são reconhecidos desde 2008
A advogada também conta a vitória em última instância que o seu escritório obteve na Justiça britânica. A decisão garantiu o reconhecimento dos casamentos de brasileiros por procuração. A Inglaterra não reconhecia o documento como válido, o que dificultava o processo de regularização dos vistos de quem não pudesse ir ao Brasil para se casar. Mas provou-se que se tratava de direito internacional, que quem legisla é o país onde a pessoa se casou.
“Foi um caso famoso para o nosso escritório, trouxe uma visibilidade enorme para a gente, e, logicamente, uma vantagem imensa para as pessoas que não podiam se casar aqui. Facilitou a vida dessas pessoas, trazendo algo que é legal, que não tem problema nenhum. Era a imigração querendo legislar sobre a jurisdição alheia, e isso não pode”, explica.
Ela não cuida apenas das muitas histórias de brasileiros que vivem no Reino Unido, também atende empresas do Brasil que vêm se instalar no país. Vitoria conta que essas companhias eram muito menos numerosas logo que desembarcou na Inglaterra. Antes, segundo ela, iam direto para os Estado Unidos.
O mercado inglês, na avaliação da advogada, é muito bom para as empresas estrangeiras. Mas reconhece que elas agora estão esperando para fazer novos investimentos no país em função do Brexit. Novas regras podem ser criadas no mercado britânico após o divórcio da União Europeia, o que deixa um certo clima de incerteza no ar para quem vai investir. Várias companhias de outros países do mundo estão fazendo o mesmo.
Brasileira fez parte da primeira formação de consultores do método Marie Kondo
Marina Ramalho participou do curso de formação em Nova York em 2016 e trabalha como consultora no Canadá. O livro que ensina o método de arrumação Marie Kondo já vendeu mais de 2 milhões de exemplares em todo o mundo.
Amanda Lourenço, em colaboração para a RFI
Selecionar objetos e roupas que trazem alegria se tornou, de repente, uma mania mundial. A responsável pela febre é a japonesa Marie Kondo, que desenvolveu um método de organização baseado em princípios de desapego e afetividade. Ela ganhou sua própria série de TV, Tidying Up, onde ajuda famílias a se livrarem do excesso de bens materiais. Nos Estados Unidos, o programa causou um aumento de doações de roupas para instituições, fenômeno que está sendo chamado de “efeito Marie Kondo”.
Algumas pessoas, no entanto, preferem contar com uma ajuda personalizada para esvaziarem suas casas. Marina Ramalho, brasileira que vive no Canadá há dez anos, fez parte da primeira turma de formação de consultoras do método Konmari, em 2016.
“Quando ouvi falar do livro fiquei super empolgada, porque o sistema é bem prático. Ele cria um plano perfeito para você lidar com a bagunça da sua casa inteira. Então arrumei a minha casa toda e me apaixonei. Logo depois descobri que o programa estava, pela primeira vez, treinando pessoas para serem consultores e me inscrevi”, conta.
Marina afirma que não era nenhum exemplo de organização antes de conhecer o sistema KonMari. “Sempre digo para meus clientes que não sou uma daquelas pessoas que já nasceram organizadas. Pode perguntar para a minha mãe, meu quarto sempre foi bagunçado”, brinca, acrescentando que tem “uma natureza caótica”.
Acumulação é um problema universal
Depois da formação, Marina criou a Joy of Less, onde presta consultoria para interessados em uma vida mais organizada, pessoalmente e online. Ela afirmou que a procura pelo método cresceu consideravelmente e acha curioso que no seu círculo social as pessoas estejam finalmente ouvindo o que ela vinha tentando explicar há anos.
“Foi interessante essa explosão de popularidade tão de repente, mas é de se esperar, já que esse problema de excesso é um problema que muita gente tem”, explica Marina. A brasileira recomenda que os interessados procurem entender a filosofia por trás do método, que vai além de manter as gavetas arrumadas. A organização seria o resultado físico de um processo mais profundo.
“Nos livros, a Marie Kondo explica bem o raciocínio por trás do programa e as razões para organizar por categorias e não por cômodos da casa, por exemplo. Recomendo a leitura”. Por experiência própria, ela garante que funciona: “Hoje, se você me pedir qualquer coisa, sei exatamente onde está. Até meu marido que não é a pessoa mais organizada do mundo já melhorou muito!”, brinca Marina.
Designer brasileira faz sucesso com roupas sustentáveis em Portugal
Recém-chegada a Lisboa, a marca da designer brasileira Flávia Aranha, foi criada em 2009. Seu trabalho é fruto de um longo processo de pesquisa de materiais naturais e técnicas artesanais de pequenos fornecedores espalhados pelo Brasil. O objetivo é fazer moda com ética e responsabilidade social e ambiental.
Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Lisboa
As “roupas sustentáveis” são criadas unindo técnicas ancestrais e tecnologia desenvolvidas a partir de matérias-primas naturais e tingidas com flores, ervas, chás, café, cascas de árvore. A fiolosofia da marca é o slow fashion - fazer moda de maneira consciente, sem produzir o que não é necessário.
“Depois que vi como funcionavam os meios de produção no Brasil e no mundo, decidi que tinha muito interesse em reconstruir essa cadeia, questionar esses valores e, de algum jeito, tentar protagonizar os artesãos, a biodiversidade brasileira”, diz Flávia.
“A ideia é valorizar tudo isso através de uma moda mais consciente, que consegue enxergar o processo de ponta a ponta, a conexão de todos os elos da cadeia produtiva. Em 2009, abri meu ateliê, já focado no tingimento natural e fibras naturais, depois de uma vasta viagem de pesquisa pelo Brasil, entendendo todas as nossas potências”, salienta.
Do uso do Pau-Brasil às cascas de romã no processo de tingimento, as peças são autorais e atemporais, sempre respeitando o princípio básico da marca: a relação harmoniosa entre o homem e a natureza. “Meu processo criativo vem muito do tingimento. Muitas vezes as coleções surgem a partir de uma planta, de uma cor, de um processo, de uma estampa, ou de alguma comunidade que a gente conhece, visita, ou de alguma técnica”, explica.
“A perspectiva do meu processo criativo vem sempre da matéria- prima, do processo em si. Isso inspira muito a gente. É um processo muito livre e baseado na construção da nossa identidade, como marca. Você pode notar que as modelagens não mudam completamente de uma coleção para outra, elas são mais perenes e vão se desenvolvendo e se transformando como um reflexo da própria vida mesmo”, explica a estilista.
Flávia faz questão de estar presente em cada etapa da cadeia produtiva entregando coleções fiéis à sua filosofia de vida. A marca recebeu, desde 2016, certificado pelo Sistema B, movimento que reconhece empresas com desenvolvimento sustentável e que resolve problemas socioambientais, provando que é possível aliar moda e sustentabilidade, conforto para o corpo e alma. Vestir uma roupa pode ser também carregar uma história e olhar para um futuro mais responsável.
“Acredito sim que a moda e a indústria podem gerar impactos positivos e mudanças bem significativas na sociedade e no mercado. Nestes nove anos, a gente conseguiu testar e experimentar novas maneiras de consumo e novas maneiras de produzir, de criar um diálogo muito profundo tanto com as pessoas que que fazem parte da nossa cadeia produtiva quanto com as pessoas que vestem a nossa roupa, na experiência do vestir e a transformação do vestir, da beleza, desta relação com o produto”, ressalta.
“As marcas têm a possibilidade de fazer a conexão, uma comunhão entre todos esses elos que envolvem a produção de uma roupa. Acredito que é muito importante abrir esses diálogos, tanto estéticos quanto conceituais, para que a indústria possa cada vez mais olhar para o futuro a partir de uma valorização do passado, da ancestralidade, das matérias brutas, da nossa biodiversidade. E que desta forma a gente possa investir em pesquisa, inovação e tecnologia. As mudanças acontecem a partir destas inovações”, conclui Flávia.
Equipe de jornalistas brasileiros dribla censura e filma na Arábia Saudita
Peça fundamental no xadrez geopolítico global, com papel de destaque nas guerras da Síria, do Iêmen e no setor de petróleo, a Arábia Saudita está na mira da comunidade internacional desde o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em outubro passado. A incerteza quanto as consequências do episódio para as relações do reino com os Estados Unidos e na economia saudita criou um clima de instabilidade. Em meio a essa turbulência, a equipe de um programa de TV do Brasil driblou as restrições e, em dezembro, passou 17 dias gravando neste que é um dos mais fechados países da atualidade.
Mariana Durão, correspondente da RFI em Dubai
O diretor e co-autor do programa “Que Mundo é Esse?”, André Fran, conversou com a RFI sobre a aventura no país do Golfo. Também escritor, palestrante e comentarista, Fran começou sua jornada na TV em 2009 com a premiada série de viagens “Não Conta lá em Casa”. Na passagem pela Arábia Saudita, ele teve a companhia dos parceiros Felipe UFO, Michel Coeli e Rodrigo Cebrian.
Os quatro testemunharam momentos históricos como o show do DJ francês David Guetta, em que pela primeira vez homens e mulheres sauditas se misturaram na plateia. O concerto ocorreu no fechamento da Formula E, uma corrida de carros elétricos sediada pela nação líder da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), algo por si só inusitado, mas coerente com a Visão 2030 lançada pelo país, que prevê a diversificação da economia e a redução da dependência da commodity.
Original e sem filtro
As pautas polêmicas são a essência do “Que Mundo é Esse?”, que procura apresentar ao público uma versão original e sem filtro de questões contemporâneas. Desde a sua criação, em 2015, seus integrantes já estiveram na linha de frente da luta contra o grupo Estado Islâmico, viajaram pela isolada Coreia do Norte, registraram o drama dos refugiados em fuga para a Europa, participaram de uma parada militar na Rússia de Vladimir Putin e, recentemente, visitaram o Irã, no auge de uma crise econômica, social e da imposição de sanções pelos Estados Unidos.
Para evitar qualquer tipo de controle de autoridades e mostrar a realidade da forma mais isenta e independente possível, os quatro integrantes do programa viajam sempre com visto de turistas, no melhor estilo mochila nas costas, uma câmera na mão – o grupo leva equipamento reduzido e uma ideia na cabeça, ou melhor, um roteiro, que muitas vezes acaba sendo alterado por força das circunstâncias ao longo das viagens.
No caso da Arábia Saudita, onde é muito difícil obter um visto de turismo, eles aproveitaram a brecha criada para os espectadores da Formula E entrarem no país. O roteiro incluiu a capital Riade e a cidade de Jedá.
“A gente considerou que ia ter muito problema de liberdade para filmar e pessoas tentando coibir a gente, mas não rolou isso porque uma das ações do príncipe Mohammed Bin Salman de tornar, entre muitas aspas, o país mais aberto e progressista, foi tirar a polícia religiosa (responsável por fazer cumprir a Sharia, a lei islâmica) das ruas”, conta.
Risco de pena de morte
Ao contrário de outros episódios do programa, dessa vez foi difícil conversar com os moradores locais. O grupo optou por não abordar pessoas nas ruas por considerar que isso atrairia uma atenção excessiva, além de colocar os possíveis interlocutores em risco depois que o programa fosse ao ar. No pior cenário, diz Fran, eles poderiam ser tratados como espiões e até mesmo condenados à morte. A Arábia Saudita é adepta do wahabismo, uma forma rígida e ultraconservadora do islamismo.
“Se no Irã já foi difícil, mas conseguimos (entrevistar) porque as pessoas tinham mais consciência, mais vontade de expor suas insatisfações, eram mais conectadas com as causas atuais do mundo, na Arábia Saudita foi muito mais complicado. Primeiro porque é um país que oprime muito mais o povo e onde as consequências de desafiar isso são muito maiores. E também por uma questão de a própria sociedade ser muito conservadora”, diz.
A Arábia Saudita foi o país em que Fran se sentiu mais limitado para gravar, mesmo em comparação à Coreia do Norte, onde há um limite claramente imposto pelo governo do que pode ou não ser visto por estrangeiros. “Não foi o [lugar] mais tenso, no sentido de medo, mas o mais limitador. Você tem que se segurar para não se expor e não sofrer consequências”, afirma.
Reformas sociais de olho na economia
A visita deixou ainda mais nítida para Fran a percepção de que o grande motor das recentes reformas sociais promovidas pelo reino é o interesse econômico, com a necessidade de reduzir a dependência local do petróleo, estimulando a indústria do entretenimento, o esporte e o turismo. Entre outras medidas foram reabertas salas de cinema e permitido às mulheres dirigir e frequentar estádios de futebol no país.
“Por mais que a sociedade esteja aprovando, e a gente conseguiu sentir que as mulheres estão felizes pelo país estar dando um passo, mesmo que pequeno, em direção a dar mais liberdade para elas, você vê que tem muito de interesse econômico e de imagem da Arábia Saudita por trás dessas liberdades. Muito mais para mostrar para o mundo do que de fato querer ter um avanço”, analisa.
O diretor do “Que Mundo é Esse?” destaca que o posicionamento das mulheres nos diferentes países muçulmanos varia de acordo com a vertente da religião islâmica seguida. No caso da Arábia Saudita, mesmo com as redes sociais livres ele enxerga um ativismo menor – e mais coibido – do que, por exemplo, no Irã, onde esses canais são totalmente controlados. As diferenças também se refletem nas roupas, com as sauditas adotando mais a burca do que em outras nações muçulmanas como Turquia, Emirados Árabes e Irã. “Não dá para colocar tudo na mesma caixa”, frisa.
Os integrantes do “Que Mundo é Esse?” estiveram em locais emblemáticos da história recente da Arábia Saudita. Um dos cenários foi o hotel cinco estrelas Ritz-Carlton, convertido em uma espécie de prisão de luxo em 2017, quando o príncipe Mohammed bin Salman deteve outros príncipes e autoridades de alto escalão sob o pretexto de combater um esquema de corrupção. Eles também estiveram no ponto mais próximo de Meca, cidade sagrada do islamismo proibida para não muçulmanos.
Soprano paraense começou tarde carreira lírica, mas hoje canta na Ópera Estatal de Berlim
A soprano brasileira Adriane Queiroz é prova de que nem sempre uma carreira de sucesso na música erudita depende de um início precoce. A paraense começou relativamente tarde. Ela trabalhava como professora quando se apaixonou pelo canto lírico. Hoje ela canta na Staatsoper de Berlim.
Do correspondente da RFI Brasil em Berlim Márcio Damasceno
“No canto lirico, você geralmente começa no piano, você começa a ter uma educação musical desde os 12 ou 10 anos de idade. E essa base, infelizmente, eu não tive na infância”, conta. “Então, comecei muito tarde, já com 23, 24 anos, e já direto no canto lírico. Lá em Belém do Pará, eu fazia teatro, quando comecei a me apaixonar pelo canto lírico, mesmo tendo uma outra profissão”, ressalta.
Ela conta que quando chegou à Áustria, aos 27 anos, para estudar numa universidade em Viena, já era considerada de idade relativamente avançada. “Eu já era bem velha para os padrões europeus, porque geralmente com 27 anos você está terminando a universidade de canto e não começando a universidade de canto, como foi o meu caso.”
Após quatro anos em Viena, Adriane se mudou para a Alemanha, onde desde 2002 faz parte do elenco fixo da Staatsoper, a Ópera Estatal de Berlim. A soprano é destaque da programação da casa de ópera berlinense, atuando neste mês em óperas como A Flauta Mágica e Bodas de Fígaro.
Em fevereiro, ela estreia uma montagem moderna e inédita da Flauta Mágica, do diretor americano Yuval Sharon. Além disso, a brasileira também é convidada para os principais palcos eruditos alemães e europeus, como Munique, Salzburgo, Hamburgo e Stuttgart.
Saudades de Viena
Além de periodicamente estrelar em palcos brasileiros, de vez em quando ela volta a se apresentar em Viena, onde mata a saudade de seus tempos de universidade. A artista conta que lá o trato com as estrelas líricas é outro. “É uma diferença absurda. Porque a música em qualidade nos dois polos, quanto a isso não há o que discutir. Mas a forma como se tratam os artistas é totalmente diferente”, afirma.
“Em Berlim, você, como artista, é sempre tratado como uma pessoa qualquer. E nós somos, na verdade, uma pessoa qualquer, também estou de acordo. Mas em Viena existe um tratamento especial para os artistas e desportistas“, explica. “Eles realmente te param na rua e perguntam ‘é você que está fazendo aquele papel? Pode me dar um autógrafo?‘ Eles têm realmente esta outra forma de proteção com os artistas, principalmente os líricos. É uma coisa absurda. Isso não existe em Berlim“, frisa a soprano.
Após quase 17 anos radicada em Berlim, Adriane se diz apaixonada pela capital alemã, sobretudo pela diversidade. “Berlim tem esse mix. Ao mesmo tempo em que você tem o normal, o cotidiano, você tem também o mágico, você pode ir a lugares mágicos, você pode assistir coisas diferentes. Em Viena você tem também essa possibilidade, mas em menor quantidade“, ressalta, “E essa mistura te dá a possibilidade de se envolver com outras pessoas, de ver outras pessoas na rua, não ver apenas um tipo de pessoa. Acho muito estranho quando ando numa cidade e vejo apenas um tipo de figurino, uma forma de se vestir, uma forma de andar, uma forma de estrutura das ruas, Eu não gosto. Eu gosto dessa mistura. É por isso que eu amo Berlim.“