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  • Conheça Carol, a baiana que tem conquistado portugueses e estrangeiros em terras lusitanas
    Na terra do bolinho de bacalhau, o acarajé da Carol é rei. A iguaria faz sucesso em eventos, como os da Embaixada Brasileira, em Lisboa, e no restaurante que a soteropolitana abriu há seis anos na capital portuguesa. Fábia Belém, correspondente da RFI em Portugal. Carolina Alves de Brito, que costuma ser chamada de Carol, não imaginava que um dia deixaria a cidade de Salvador, onde nasceu e cresceu. “Como eu sou muito baiana, muito soteropolitana, eu sou muito agarrada às minhas tradições, eu não me via vivendo em outro estado, muito menos em outro país, mas aconteceu.” Em 2002, quando trabalhava como ajudante de Cira, famosa baiana de acarajé, Carol foi convidada por um casal de clientes portugueses para ir viver na cidade do Porto, onde trabalharia no restaurante do casal. A jovem ficou tão empolgada, que não pensou duas vezes: “Falei assim: ‘Ai, eu vou, vou pra Portugal.’ E a minha mãe dizia ‘Oxe, não vai, não. Você já viu a idade que você tem?  Você só tem 18, vai fazer 19 anos. Vai fazer o que em Portugal sozinha?’ Eu disse ‘Ah, mãe, se não der certo, depois eu volto.’” Carol nunca mais voltou a morar na Bahia. No restaurante, na cidade do Porto, ela ficou encarregada de preparar moquecas, bobó e acarajé. “E era engraçado que as pessoas diziam assim: ‘A gente vai pagar o rodízio, mas vai comer só acarajé.’ E o meu patrão falava assim ‘Menina, o que é que você bota nesse acarajé que o povo tá vindo só atrás desse acarajé?”, lembra Carol com um sorriso largo.  O acarajé da Carol Feito à base de feijão fradinho, cebola e alho, o acarajé é frito em azeite de dendê. Depois ganha os acompanhamentos: vatapá, camarões secos defumados e vinagrete, “que é a saladinha que o pessoal adora”, revela a baiana. “Eu tou tão segura de que eu sei fazer um bom acarajé, que eu quero ver mesmo as pessoas comendo, eu quero olhar pra cara da pessoa, e a pessoa lambe os dedos, fecha os olhos, e a pessoa come com a mão toda. Digo: ‘Gente, que maravilha!’”, conta Carol com entusiasmo. Sucesso na Embaixada do Brasil de Lisboa No Porto, o acarajé da Carol fez tanto sucesso, que um dia a baiana foi convidada para fazer o quitute, em Lisboa, num encontro organizado pela Embaixada do Brasil. Foi a primeira vez num evento na capital portuguesa. “Pra mim foi muito bom, porque na verdade dividiu muita coisa e mudou muita coisa na minha vida”. Depois do sucesso que fez, Carol percebeu um futuro de oportunidades. Trocou o Porto por Lisboa, e nos dez primeiros anos na capital portuguesa, ela se dividiu entre o trabalho como recepcionista numa churrascaria e os eventos, como os da Embaixada, onde fazia pratos típicos da culinária baiana.  “Foi uma novidade porque não era só vender o acarajé, [também] era o traje típico de baiana, é toda uma história que eu conto, que adoro conversar, eu adoro falar, e eles valorizaram muito e me fizeram sentir muito orgulhosa de todas as lembranças que eu tenho, de tudo o que eu trago comigo”, salienta.   A passagem pela Casa do Brasil de Lisboa Uma vez por semana, sempre nos dias de folga do restaurante, Carol levava o tabuleiro de acarajé para a Casa do Brasil de Lisboa, no Bairro Alto. O espaço que ocupava “começou a ser o point onde toda a gente se encontrava, se completava e recebia aquela energia boa, o axé. A gente colocava uma música ao vivo.... Então, virou um ponto de encontro e foi crescendo”, recorda. Quando a Casa do Brasil precisou do espaço, conta Carol, ela não pensou duas vezes e abriu o próprio restaurante no Bairro Alto. Isso foi há quase seis anos. Cerca de 80 por cento dos clientes são portugueses e brasileiros residentes. O restante é formado por turistas de diferentes países. “O pessoal gosta, e me chama na cozinha e eu venho, converso, dou uma risadinha, tiro uma fotografia”. O cardápio é recheado de culinária baiana, “de culinária de terreiro”, explica Carol, ao comentar a importância de preservar as tradições da culinária presente nos terreiros das religiões de matrizes africanas. “A gente tem que respeitar a ancestralidade. Eu tenho que respeitar tudo o que aprendi lá atrás”, ressalta. Cozinha afetiva Carol reconhece que a comida que serve mexe com a memória, desperta emoção e afeto juntos. Muitos dos clientes que chegam querem “matar a saudade”. “É como se [a comida] tivesse um botão que liga a pessoa e conecta depois [às memórias]. E me emociona muito quando eu estou lá na cozinha e consigo enxergar de lá uma pessoa aqui emocionada, falando coisas boas, que lembrou da infância, que lembrou da mãe, da avó. E eu vivo exatamente disso, e digo ‘Gente, eu vivo de energia, eu preciso desse retorno, desse carinho’, porque não é fácil fazer acarajé, né, eu falo assim [fazer acarajé] no outro lado do Atlântico”. Salvador numa rua de Lisboa Seguindo as tradições, todos os anos Carol prepara o caruru, um tradicional prato da “culinária de terreiro” feito com bastante quiabo, e que é servido no dia 27 de setembro, data em que se celebra o dia dos santos Cosme e Damião. “É uma data importante, porque a gente tem os erês como umas das figuras principais dentro do nosso candomblé, que são Cosme e Damião”, explica. Carol chega a cruzar o Atlântico para comprar, em Salvador, parte dos ingredientes. “Eu trago banana da terra, cana, abóbora, eu trago as coisas que eu posso trazer de lá pra complementar o caruru. O quiabo, a gente encontra aqui.” Ano passado, Carol serviu caruru para cerca de mil pessoas que fizeram fila na rua do restaurante. “A gente não cobra o caruru de Cosme e Damião, porque é uma oferta nossa, só que a gente pede para a pessoa trazer um quilo de alimento não perecível ou algum donativo”, esclarece. A baiana entregou tudo o que foi doado a uma organização internacional que apoia crianças. “A gente consegue manter a tradição”, diz. Em maio, a mudança de Carol para Portugal vai completar 21 anos, mas a terra natal está cada vez mais presente na baiana nascida e criada no bairro de Itapuã. “Eu trabalho em Salvador e depois eu moro em Lisboa, porque eu estou aqui dentro e eu estou completamente conectada com tudo lá.”
    3/12/2023
    5:00
  • Com inspiração nos povos indígenas, brasileira na Suíça vende produtos para quem tem intolerância alimentar
    Ela sempre se interessou por cozinhar para os que têm intolerâncias alimentares e alergias, porque ela mesma era uma dessas pessoas. Há dois anos, o sonho saiu do papel e ela abriu uma confeitaria em Genebra, na Suíça, especializada em produtos sem glúten, sem lactose e sem açúcar refinado.  Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça  A jornalista e empreendedora Eliane Carvalho é a brasileira por trás desse negócio dedicado àqueles que têm intolerâncias a alguns alimentos e se inspirou nos povos originários do Brasil.  “Como a gente sabe, Tupi vem de uma aldeia indígena, e eu acho que nada mais natural do que voltar às origens, que vêm da planta, da natureza, sem aditivo químico, sem nada tóxico. Então, eu acho que Tupi Healthy Bakery, que é a pâtisserie saudável, tinha tudo a ver com o meu projeto”, explica.  Eliane conseguiu transformar o que seria uma desvantagem, digamos assim, o fato de ter uma intolerância alimentar, em algo positivo, que foi a criação de uma empresa destinada a atender pessoas como ela. A empreendedora criou uma solução para o que muitos considerariam um problema, uma limitação.  “Isso veio, inclusive, de uma frustração desde a minha infância. A criança, no Brasil, vai a uma festa pensando no brigadeiro, né? E eu não podia comer porque eu sou intolerante à lactose desde o berço. E o que acontecia? Eu comia o brigadeiro escondido e depois passava muito mal. Então, eu queria criar uma inclusão. Há espaço para todo mundo”, afirma.   Como tudo começou   Ela diz que a ideia de abrir uma confeitaria especializada em Genebra teve como ponto de partida muita pesquisa no Brasil e nos Estados Unidos, antes de ela se decidir, finalmente, pela Suíça.  “Começou basicamente de uma constatação de que o produto saudável ainda era visto como alternativo e hippie. Eu percebi logo que com essas mudanças no mundo o tempo todo, ele deixou de ser hippie e se tornou a norma. Uma preocupação cada vez maior com a saúde. No Brasil, eu não vi um caminho por uma questão de impostos, de muita inconstância no momento. Nos EUA, eu vi que a concorrência seria muito grande e ávida. E como eu tenho um vínculo com a Suíça desde a adolescência, achei que era o lugar que me daria essa segurança necessária para um novo projeto.” Eliane conta que, entre os produtos com mais saída, estão o polvilho com sabor (de páprica, manjericão, gruyères), que, em breve, ganhará novas versões:  “Vamos lançar novos sabores, o tomate-pizza, o de chocolate. As verrines saem muito bem. Temos também os minibrownies e as miniverrines para festas”, explica.  Ainda há tortas, como a de paçoca, cheesecakes e os famosos bolos de pote brasileiro, que aqui na Suíça se chama verrine (de cheesecake, de banoffee, de tiramisu).  “Todos têm uma saída muito boa. Mas o que mais está crescendo nesse momento é o polvilho”, conta.  Segundo ela, há também produtos brasileiros adaptados ao gosto local. “A gente vende o pão de queijo, que é de temporadas, mas pode ser encomendado sempre. Usamos o gruyères, que é um queijo sem lactose, muitos não sabem disso. Tem também a torta de paçoca, um grande sucesso”.   Como foi o teste de receitas até o produto ideal  Eliane diz que a fase de criação e testes das receitas deu muito trabalho. À RFI, ela contou como foi esse período e quais os ingredientes que mais usa para fazer os produtos.   “A gente sabe que cada um tem um paladar, e a primeira mudança que a gente teve que fazer foi diminuir o açúcar, porque o paladar suíço não gosta de tão doce quanto o brasileiro. Provam-se dez tipos de farinhas diferenciadas até achar o produto ideal. Tanto que nós acabamos criando o mix Tupi, que é uma mistura de três farinhas. E a gente pretende, um dia, tentar botar esse mix no mercado”.  Segundo ela, a aceitação dos produtos pela clientela local tem sido “excelente”.  “Gostam muito da proposta do luxo saudável. Luxo no sentido de uma embalagem bonita, com muito capricho, muito cuidado. A receptividade, desde o começo, foi muito boa”.  Jornalista de formação e filha de dona de jornal   Formada em jornalismo, com mestrado em Ciências Políticas por Harvard, a brasileira vem de uma família ligada à imprensa.  “Eu sou filha – e acho que ele é saudoso pra muita gente – do Ary Carvalho, do Ary de Carvalho, como ele gostava, do jornal O Dia, pioneiro de venda em banca, o primeiro full color no Brasil. Eu acho que se eu não fosse filha dele, não estaria aqui hoje, porque eu tenho na veia esse empreendedorismo, essa vontade de vencer, de fazer a diferença. E, se Deus quiser, onde ele estiver, ele vai ter muito orgulho do sucesso da Tupi”, disse.
    3/11/2023
    4:54
  • Cineasta brasileira faz filmes sobre a cultura americana que Hollywood ignora
    A cineasta paulista Ivete Lucas vive nos Estados Unidos há 15 anos, onde faz filmes sobre aspectos da cultura americana que não são mostrados em Hollywood. Defensora de um cinema humanista, ela tem uma carreira premiada na Europa e nos EUA. Em uma recente visita à França, para participar de um festival, a realizadora conversou com a RFI. "Faço filmes para participar de um diálogo sobre os movimentos políticos que são humanizadores", declarou. Adriana Moysés, da RFI Filha de mãe brasileira e pai mexicano, Ivete Lucas passou a infância no Brasil, a adolescência no México e se mudou para os Estados Unidos aos 24 anos para estudar cinema na Universidade do Texas, em Austin. Com essa rica bagagem multicultural, ela acabou ficando nos EUA, onde desenvolve um cinema independente admirado em outras regiões do mundo.  Autora de ficção e documentário em curta e longa-metragem, Ivete faz seus filmes em inglês. Ela conta que gosta de mostrar "coisas lindas que o povo dos Estados Unidos não acha lindo", mas que para ela representam mostras de cultura admiráveis. "Esse interesse sobre a cultura dos Estados Unidos faz com que meus filmes tenham projeção no mundo inteiro", ela afirma. "Sempre faço filmes com um espírito humano que qualquer pessoa, em qualquer país, em qualquer cultura, pode se identificar. Por exemplo, a vontade que todos temos de fazer coisas, de chegar a um lugar melhor do que as condições em que vivemos. Essa é uma coisa universal, sabe?", explica a realizadora. Enquanto muitos cineastas que atuam no mercado do filme independente norte-americano fazem produções para o mercado interno, Ivete Lucas faz filmes "para o mundo inteiro" apreciar.  Ter morado em três países, falar diversas línguas e ter tido a vida impregnada pelas culturas brasileira, mexicana e norte-americana expandiram os sentidos da cineasta. "Eu digo que escuto o que está acontecendo ao meu redor e admiro. Faço parte dos lugares onde eu vou e depois traduzo essas coisas em linguagem cinematográfica", destaca. Essa sensibilidade foi adquirida ao longo da trajetória de imigração. Quando alguém com uma história de vida semelhante fala que é difícil não ser de lugar nenhum, Ivete Lucas discorda. "Se a gente vê isso de maneira redutiva, às vezes fica triste. Mas se pensarmos que somos de todos os lugares, que estamos amalgamando, juntando todas essas culturas em uma pessoa, na verdade nós temos muito o que dar ao mundo", afirma com convicção. Imagens que comunicam A escolha de se expressar por meio da linguagem cinematográfica acabou sendo uma decorrência natural de tantas mudanças. "Quando eu descobri as imagens, descobri uma maneira de me comunicar instantaneamente entre todas as minhas culturas, porque eu sou brasileira, mexicana e americana agora. Foi a maneira mais natural de pôr numa conversa as coisas que eu não estava vendo", recorda. Mas o que a cineasta não via e tinha vontade de mostrar? "Quando eu via o cinema de Hollywood, eu falava – mas essas pessoas não parecem a minha mãe, não parecem a minha avó. Essas pessoas têm muita cirurgia plástica, têm uns corpos que a gente nunca vai ter, e eu preciso criar imagens que mostrem pessoas como a minha mãe, como a minha avó brasileira que trabalhava no campo, que trabalhava numa fazenda de café, que só estudou até a segunda série, mas que era uma pessoa maravilhosa, com muita cultura", ressalta Ivete. "Meus filmes falam de pessoas que vivem em outras faixas econômicas e culturais, mas que estão criando cultura", resume.  Entre as produções selecionadas para festivais internacionais estão um grupo de curtas sobre a juventude americana realizados em Pahokee, cidade nos pantanais da Flórida. Neste cenário, Ivete Lucas e seu companheiro, Patrick Bresnan, filmaram The Send-Off, The Rabbit Hunt, documentário sobre a caça de coelhos, e Skip Day, vencedor em 2018 da Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, entre outros. No site da diretora, a maioria dos curtas-metragens pode ser visualizada gratuitamente. Imersão em comunidade nudista Ivete Lucas faz atualmente uma turnê internacional para exibir o documentário Naked Gardens, filme sobre uma comunidade de nudistas que vivem em família no sul da Flórida. Para documentar esse modo de vida original, ela fez uma imersão entre as famílias. Participar de festivais na Europa é sempre enriquecedor para a cineasta pela diversidade de culturas representadas nas telas. Na avaliação de Ivete Lucas, a linguagem cinematográfica de Hollywood não é ruim, é boa. "Mas é uma linguagem quase que publicitária, que busca vender o que é bonito e legal nos Estados Unidos", diz sem muito entusiasmo. Ela prefere fazer filmes que possam "participar de um diálogo sobre nossa humanidade". A motivação da brasileira é contrariar as forças que tentam separar as pessoas umas das outras. "Eu não quero vender nada, quero mostrar coisas verdadeiras. Acho que é uma coisa espiritualmente mais elevada do que a linguagem publicitária. Então, me interessa mais a conversa cinematográfica que existe aqui na Europa, porque é tanto sobre isso como sobre evoluir. Como utilizamos o cinema para nos expressar de uma maneira mais profunda", conclui a diretora.
    3/5/2023
    9:25
  • Mostra de cinema Novocine leva música brasileira para a tela grande em Madri
    No Cine Paz, um cinema situado no centro de Madri, tem sido comum escutar comentários em português e espanhol sobre obras brasileiríssimas. A 16.ª edição da mostra de cinema brasileiro Novocine, que tem como tema central a música, é a razão para que isso aconteça. Iniciado na última quarta-feira (1), o evento vai até sábado (4). Uma das espectadoras que compareceram ao Novocine já no primeiro dia foi a espanhola Violeta Mateo. Ela é estudante de português há algum tempo, mas nunca esteve no Brasil. Assistir ao filme “Tudo que aprendemos juntos” foi uma maneira diferente de se aproximar da realidade do país latino-americano. “Tudo que aprendemos juntos” é estrelado por Lázaro Ramos e conta a história, baseada em fatos reais, de um professor de violino que começa a dar aulas na comunidade de Higienópolis, em São Paulo, transformando profundamente a realidade de jovens em situação de vulnerabilidade social. “Nos jornais, nas notícias sempre se fala dos conflitos das comunidades. Mas é muito mais, não? O que acontece lá. Não só é violência policial, violência das comunidades”, reflete Violeta, iniciando a conversa. A espanhola Patricia Moro, que já viveu em São Paulo, pôde ver na telona facetas de uma história já conhecida. “Eu conhecia o filme e a história real do professor. Como eu conheço a cidade, para mim foi muito perto da realidade. Eu adorei o filme, as imagens… Muitas coisas da cidade estão dentro do filme. E eu gostei muito também de ver como a música tem um valor para a gente, não? Eu acho que a música está dentro do povo brasileiro”, diz Patricia. Se tomarmos como exemplo Edimundo Santos, músico brasileiro que vive há 15 anos em Madri, podemos dizer que Patricia está coberta de razão. Ele, que tem a música como ofício e como paixão, também fez questão de comparecer à primeira exibição da mostra.  “Eu acho essa mostra excepcional, necessária. É uma forma de aproximar a cultura brasileira da cultura espanhola. Eu como músico acho fantástico aproximar mais a música brasileira do público espanhol”, comenta. Uma trilha “caleidoscópica” Além de “Tudo que aprendemos juntos”, ao longo da semana, a mostra exibe “Belchior — Apenas um coração selvagem”, “Elis”, “Clementina”, “Chico, artista brasileiro” e “Eduardo e Mônica”. A curadoria foi feita por Iona e Olivia de Macedo, mãe e filha compartilham o amor pelo cinema. Iona explica que, na intenção de trazer boas histórias que tivessem a ver com a música brasileira, o processo de escolha dos filmes foi um caminho “caleidoscópico”. “Eu e a Olivia somos disléxicas. E, dentro da dislexia, fazemos uma viagem gigante para chegar num ponto, não é essa coisa de trocar de letra. Nada disso. E esse caleidoscópio faz parte dessa visão que dá um passeio através da música e do cinema”, introduz Ione. Olivia destaca que o início do processo de construção da programação veio com a escolha do documentário “Clementina”. O filme aborda a vida e a obra de Clementina de Jesus, que teve seu talento reconhecido aos 62 anos e, com um timbre de voz único, se tornou um dos maiores expoentes do samba brasileiro. “Era uma parte da música brasileira que eu (praticamente) desconhecia. Conhecia de histórias, também pelo Emicida, do Amarelo, em que ele conta a história africana da música brasileira. Eu achei um começo bem legal e importante também. Porque eu acho que o que a gente exporta é bastante branco e a música brasileira tem a raiz na cultura negra, né?”, explica Olivia. A partir daí, o quebra-cabeça foi sendo montado. Primeiro, veio um filme que simboliza o que Olívia chama de “raiz da música brasileira”. Logo, veio a escolha de “Belchior — Apenas um coração selvagem”, que, por sua vez, faz alusão às raízes nordestinas da curadora.  Interconexões brasileiras O diretor e apresentador de rádio, Carlos Galilea, aprecia a música brasileira e vê com bons olhos a mescla de expressões artísticas presente nesta edição: “A música brasileira e o cinema estão muito unidos, assim como a literatura. Não dá pra separar. Eu acredito que no Brasil há uma interconexão entre as diferentes expressões: cinema, literatura, poesia, música”. Além disso, Carlos destaca outra característica tipicamente brasileira: “Também existe uma conexão intergeracional, que é uma coisa que marca o Brasil, que o diferencia de outros países. Não existe essa separação entre gerações, musicalmente falando. De repente, Emicida fala de Caetano e Caetano diz que Emicida é muito bom. O rapper reconhece o cantor de 80 anos. Eu acredito que essa mistura intergeracional faz com que a cultura brasileira seja fascinante”. A tese de Carlos se comprova na história contada por Natália Dias, que é diretora, junto a Camilo Cavalcanti, do documentário “Belchior, apenas um coração selvagem”.  “O Belchior estava desaparecido. A gente tinha muita vontade de apresentar e mostrar pra ele que toda uma nova geração tinha um grito meio engasgado de ‘volta, Belchior’ que já estava nos muros da cidade e sendo dito por jovens. A gente faz parte de uma geração de trinta e poucos anos, mas até gerações mais novas que a nossa também já estavam fazendo esse chamado de ‘volta, Belchior’”, contextualiza Natália, em entrevista à RFI. Mais que na vida pessoal, a obra cinematográfica se centra na trajetória artística de Belchior. Para personificar parte desse caminho, o filme traz um conterrâneo do cantor. “A gente trouxe a palavra, a força da poesia dele descolada da canção, através do Silvero Pereira. Então a gente tem, no filme, além do Belchior contando sua própria história, porque é um filme em primeira pessoa, o Silvero trazendo as poesias faladas”, conta Natália. O trabalho de pesquisa, produção e realização aconteceu, em parte, de forma remota, por conta da pandemia. Ainda assim, quando possível, a equipe do filme foi a campo: “Nós fomos até Fortaleza, Sobral… Conhecemos primos, tios, o irmão mais velho do Belchior, conversamos muito com ele. Fomos à fazenda onde o pai dele nasceu e viveu, passamos um dia inteiro lá… Essa vivência, esse pé na terra, esse respirar o ar do sertão que tanto faz parte da obra dele foi muito importante pra criarmos um descolamento necessário para a nossa própria interpretação”. A diretora sorri ao lembrar de um momento que aconteceu quando o filme ia ser lançado: “Eu voltei a ouvir um áudio de uma conversa que a gente teve com o Fausto Nilo e havia coisas ditas ali, no áudio, que estavam no filme, mas de outra forma. Através do Belchior, com ele mesmo falando. Eu acho que a potência de ter ele falando sobre ele é algo que atravessa as pessoas”. Depois de estrear em solo brasileiro, o filme já rodou os Estados Unidos, Portugal, Espanha e deve chegar à França nos próximos meses. Um acontecimento que vem como prelúdio A décima sexta edição da mostra de cinema brasileiro Novocine, que acaba neste sábado (4), é a prévia de uma versão estendida que deve acontecer em Madri no mês de novembro. “Nessa retomada depois da pandemia, a mostra vem com poucos filmes, com seis filmes, mas é quase que uma entrada para a mostra que deve vir depois. Nossa tentativa agora foi a de estabelecer uma curadoria e um perfil mais unificado da mostra. Eu acho que esse filão de cinema e música estará presente na mostra do fim do ano, porque foram muitos os que ficaram de fora dessa vez”, anuncia Marcos Derizans, chefe do setor cultural e de educação da embaixada brasileira em Madri.
    3/4/2023
    9:46
  • Arquitetas brasileiras fazem sucesso em Portugal com projetos de salões de beleza de luxo
    Ex-colegas de faculdade, Thayanna Botelho e Rebeca Bitencourt abriram um ateliê de arquitetura na capital portuguesa em plena pandemia. O negócio deu muito certo e a dupla se tornou referência em projetos de salões de beleza de luxo. Fábia Belém,correspondente da RFI em Portugal As cariocas Thayanna Botelho e Rebeca Bitencourt se conheceram na universidade, onde fizeram o curso de arquitetura juntas. Formadas, cada uma seguiu sua carreira no Brasil, e depois em Portugal, para onde se mudaram. Thayanna chegou em 2015, e Rebeca, em 2017. Há quase três anos, o cabeleireiro das duas amigas pediu um projeto de um salão de beleza, em Lisboa. Foi quando o trabalho em sociedade começou. “Em vez de a gente pensar em fazer um trabalho freelancer, a gente já partiu para pensar algo maior, tentar pensar numa coisa mais estruturada", conta Rebeca. Com o primeiro cliente garantido, Thayanna e Rebeca abriram o ateliê de arquitetura em Lisboa, e concluíram o projeto do salão de beleza em março de 2020, quando Portugal enfrentava o primeiro mês da pandemia de Covid-19. Quando apresentaram a ideia, o cabeleiro e suas sócias não sabiam se levariam “o negócio para frente”, lembra Bitencourt. “Porque tinha começado o lockdown, [eles] não sabiam quanto tempo as pessoas iam ficar em casa ainda. E com a apresentação do projeto, eles ficaram tão empolgados que resolveram: ‘Vamos avançando com a obra porque vai dar tudo certo’”. E o negócio deu muito certo. Em quase três anos de trabalho juntas, as duas amigas já assinaram cerca de 60 projetos de arquitetura e design de interiores. Fazem projetos residenciais e comerciais - escritórios, restaurantes, e muitos salões de beleza, “que acabaram se tornando um nicho a partir desse primeiro projeto”, destaca Rebeca Bitencourt. Referência no mercado O sucesso do primeiro trabalho fez as arquitetas brasileiras se tornarem referência em projetos de salões de beleza de luxo dentro e fora de Portugal. De Angola, por exemplo, tem chegado contato de pessoas "que gostaram, porque, realmente, aquilo tá diferente”, relata Thayanna Botelho. O fato de as duas arquitetas serem frequentadoras de salões tem as ajudado muito na hora de criar os projetos e incluir ambientes para os clientes desfrutarem do tempo, como um bar dentro do salão de beleza. “A gente, além de gostar de ‘fazer’ salão, a gente gosta de ir ao salão. Então, a gente viu uma necessidade muito grande de passar um tempo melhor ali dentro. A nossa necessidade fez com que a gente pensasse no que nós poderíamos oferecer no projeto e para os clientes futuros”, frisa Botelho. Rebeca ressalta que faz parte do processo de criação da dupla imaginar experiências que as pessoas possam ter nos espaços comerciais. “Nossa vivência também acaba influenciando nesse estudo da experiência que a gente quer passar para os usuários daquele espaço”, completa.
    2/25/2023
    5:00

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